Será que o cérebro do seu filho é capaz de aprender?

15 de Março, 2023

    A neurociência nos diz que, a aprendizagem ocorre quando nosso sistema nervoso central consegue construir caminhos bem estruturados entre os neurônios, por onde as informações passarão, através das sinapses, o que também é chamado de rede sináptica. Tais caminhos são facilitados ou dificultados pelas experiências adquiridas pelo indivíduo, ao longo de sua vida, permitindo que ele aprenda com maior facilidade ou tenha maior dificuldade no aprendizado. Além disso, é possível aprender coisas novas o tempo todo, independentemente da idade, o que é chamado de plasticidade cerebral. Em outras palavras, a aprendizagem é uma mudança de comportamento, em que, num primeiro momento, você ainda não domina determinada tarefa, que passa a ser dominada e automatizada, num momento seguinte.

    Por outro lado, alguns indivíduos podem apresentar transtornos de aprendizagem, que se manifestam como alguma inabilidade específica, como aquisição da fala, aprendizagem da leitura, escrita, raciocínio lógico e afins. Esses transtornos são causados por alterações no sistema nervoso central, que podem ser provocadas por questões neurobiológicas inatas ou até mesmo que se desenvolveram ao longo do período de maturação do indivíduo, seja por má alimentação, ambiente familiar inadequado, falta de estímulos, entre outros fatores.

    Apesar desses transtornos, indivíduos neurodiversos (aqueles que apresentam algum transtorno, síndrome ou doença que afete seu desenvolvimento ou funcionamento neurológico) têm capacidade de aprender, desde que recebam os cuidados, estímulos e tratamento corretos. Isso é possível graças à neuroplasticidade, que é a capacidade de nosso cérebro se moldar para aprender constantemente, o que também é percebido em indivíduos com transtornos de aprendizagem. Trocando em miúdos, a boa notícia é que todo cérebro aprende! Isso vale também para crianças que não apresentam nenhum tipo de transtorno de aprendizagem, mas, por algum motivo, tem dificuldade em aprender.

    O que a neurociência nos ensina, portanto, é que todos nós temos nossas particularidades, logo, precisamos de ferramentas específicas para conseguir aprender. Um indivíduo com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) pode aprender, assim como um indivíduo neurotípico, demandando, porém, mais tempo, práticas mais estimulantes, ou outras ferramentas, que vão depender de cada indivíduo.

    Isso faz o ambiente escolar cada vez mais desafiador. Já se foi o tempo em que as aulas e as práticas pedagógicas funcionavam como uma espécie de "receita de bolo". Hoje, tanto professor, quanto escola, devem se reinventar continuamente, para que possam atender a imensa diversidade de cérebros que recebem diariamente. Adaptações em avaliações e atividades pedagógicas; especialistas no ambiente escolar (como orientadores educacionais), que compreendam as necessidades dos alunos e ofereçam suporte aos professores, para que as aulas atendam a todos; reflexões periódicas sobre as ferramentas utilizadas com os alunos. Ou seja, o trabalho é contínuo.

    As famílias não ficam de fora, já que grande parte do cotidiano das crianças é em casa e com seus familiares. Isso significa, que os estímulos que o aluno receberá de seus pais, irmãos e afins, também são de grande relevância em sua formação. Por isso, o trabalho de parceria entre escola e famílias é imprescindível para o sucesso escolar.

    Tornou-se comum falar de alunos com transtornos de aprendizagem apontando suas limitações, como dificuldade na aquisição de leitura ou incapacidade de permanecer sentado no mesmo lugar durante 50 minutos. Ao contrário, devemos olhar para estes indivíduos não só através de suas limitações, mas também de suas potencialidades. Um indivíduo com TDAH necessita de estímulos com maior frequência, isso significa que, atividades que envolvam maior movimentação ou intensidade nas tarefas serão mais bem desenvolvidas. Uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode apresentar maior dificuldade de socialização, mas tem grande potencial com a linguagem digital, por exemplo. Uma pessoa com dislexia tem dificuldades na associação entre o que é escrito e o som respectivo, mas tem uma capacidade visual-espacial mais aguçada, tendo grande potencial para o desenvolvimento de projetos, por exemplo.

    O que fica demonstrado, portanto, é que o desenvolvimento da aprendizagem, grande desejo das escolas e das famílias, pode ser alcançado por todos, utilizando as ferramentas corretas, respeitando as individualidades dos alunos e explorando seus pontos fortes. Sendo assim, não nos esqueçamos: todo cérebro aprende!


Rodrigo Giacomo é professor no Colégio Anglo Morumbi