Jogos populares

13 de Julho, 2022

Com a chegada das férias, nós, pais, por muitas vezes ficamos pensativos e apreensivos sobre quais atividades oferecer neste período. Neste sentido, pesquisamos o quanto os jogos populares podem ser resgatados, não somente no ambiente educacional, mas também com nossos familiares aproveitando o período de férias que está por chegar. Você sabe de onde vêm os jogos populares? Já imaginou tamanha contribuição dos seus antepassados? Grande parte dos jogos populares no Brasil são oriundos de Portugal, da ampla miscigenação, a partir dos primeiros grupos da colonização, dificulta saber com exatidão quais foram as contribuições específicas de negros, índios e portugueses e como eles influenciaram a cultura e os jogos populares brasileiros. De qualquer forma, é a pluralidade de culturas que marca essas influências. As brincadeiras fazem parte das mais variadas sociedades e épocas, e essa inserção nas culturas de diferentes povos que oportuniza nossas crianças a experimentar, por meio da ludicidade, uma descoberta de si mesma, transformando o modo como enxergam a realidade e as habilidades socioafetivas que favorecem essas relações interpessoais.

Será que as crianças, atualmente, brincam do mesmo modo que seus avós? E será que seus possíveis netos terão os mesmos costumes e gostos nos momentos de brincadeira? A única certeza que temos é que as mudanças sociais e econômicas estarão continuamente transformando significativamente os brinquedos e o modo de brincar, o avanço tecnológico, as informações transmitidas em tempo real por diferentes mídias impactam nessas relações. Mas, o mais interessante é que a criança também é responsável por criar versões para brincadeiras de acordo com sua percepção acerca dos padrões sociais, a partir dos referenciais transmitidos pelo grupo a que pertence, mas que são ressignificados no seu cotidiano e nas suas interações com seus pares e passam a desenvolver a partir daí, suas habilidades criativas. Essas habilidades permitem que a criança construa a cultura lúdica, modificando o cenário em que está inserida, compartilhando com outras crianças as brincadeiras. Que tal aproveitarmos as férias, abandonarmos temporariamente os recursos tecnológicos e resgatar um pouco daquelas brincadeiras da infância de nossos familiares e antepassados? Quando será que alguém pela primeira vez empinou uma pipa? Ou fez o primeiro aviãozinho de papel? Veja a seguir algumas brincadeiras tradicionais que fazem parte de nosso acervo cultural infantil e ser explorado com as crianças: jogo de bolinhas de gude, jogo do barbante, jogo das pedrinhas, berlinda, pular corda, pega-pega, ovo na colher, amarelinha, futebol de meia linha, esconde-esconde, duro ou mole, elástico, cabra-cega, mão na mula, policiais e ladrões, passa-anel, queimada, ioiô, taco, perna-de-pau, futebol de botão, cata-vento, bola ao cesto, pião, elefante colorido, loto, patinete, estátua, brincadeira de roda, ludo, coelhinho sai da toca, caça ao tesouro, pular sela, pau-de-sebo, costurar, brincar com soldadinhos de chumbo, usar ferramentas, montar cavalo de pau, brincar de casinha, mamãe, comadre, escolinha, médico, polícia, vendeiro, banqueiro, pé na lata, alerta, corrida de pneu, plantar bananeira, par ou ímpar, corrida de saco, dama, xadrez, papagaio, dominó, sela corrente, peteca, jogo de malha, baralho, espingarda, cavalos e cavaleiros, pingue-pongue, bilboquê.
A essência dessas brincadeiras reflete a cultura popular, torna imortais a cultura e memória infantil e favorece as relações sociais e de afeto. E, diante de toda essa riqueza, temos a responsabilidade e a consciência de não deixar esse legado se perder, transmitindo-o a nossas crianças para que elas deem continuidade a nossa história. Por isso, brincar não deve ser um momento de passar o tempo, ou estar delimitado apenas em algum momento específico. O ato de brincar e de se movimentar fazem parte da infância e devem ser respeitados, devem ser compreendidos como uma forma de linguagem em que a criança compreende o mundo e sua cultura. Ela constrói também sua autonomia, criatividade, criticidade e aprende a representar, interpretar e dar significado a sua realidade. Como mãe e educadora do movimento, convido a todos vocês nestas férias,a dedicar um pequeno período com os jogos populares e com as histórias familiares sobre estas brincadeiras para que assim possamos, através do corpo e dos jogos, fazer um entrelaçamento de diversas culturas e da vivência de várias gerações, guardando-as na memória das crianças. Pessoas importantes como reis, rainhas, índios, caciques, imperadores, e principalmente o povo, sempre tiveram grande proximidade com os jogos populares. Essa proximidade faz com que os jogos integrem a história individual e coletiva, e de fato possamos fazer parte do patrimônio cultural da humanidade.


Profa. Gabriela Molinari Fontenla é Professora de Educação Física, Doutora em Educação e Mestrado em Ciências da Reabilitação Neuro-Motora

@molinarigabi