Happiness Day

29 de Junho, 2022

Podemos fazer mais para criar um mundo mais feliz e gentil quando nos conectamos com os outros e nos unimos

No dia 24 de junho, última sexta-feira, nossos alunos e colaboradores foram lembrados de que nossas ações são importantes e que cada um de nós pode ajudar a construir um mundo mais compassivo, onde quer que estejamos. Afinamos o instrumento, celebramos a vida e o semestre que está acabando. Segundo a ONU, três ações são importantes para que possamos espalhar a felicidade: compartilhar mensagens positivas, conectar-se com as pessoas e doar-se. Nesse dia, os colaboradores e alunos praticaram essas ações e o resultado foi muito sorriso no rosto e gostinho de quero mais. Compartilhamos jogos e brincadeiras, conscientizamos sobre a importância da empatia, esquecendo os conflitos, principalmente, refletimos sobre a nossa necessidade de se colocar no lugar do outro evitando o bullying e criando sinergia entre os pares. Contribuindo com essa perspectiva, recebemos o professor Licio de Araújo Vale, falando sobre a prevenção e combate ao bullying e suicídio. Segundo Martin Seligman, precursor da psicologia positiva, "a tristeza e a felicidade não são diametralmente opostas", ou seja, a ausência da tristeza não significa necessariamente felicidade. "Com essas ações aumentamos o bem-estar e praticamos o respeito diante de tantas diversidades". Introdução por Júlio Caballa, coordenador do Ensino Médio do Anglo Morumbi e Gabriel Costa, coordenador do Ensino Fundamental Anos Finais

Suicídio na adolescência é coisa séria!


Por Licio de Araújo Vale Foi muito bacana poder falar aos alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio do Colégio Anglo Morumbi, que têm entre 11 e 17 anos, sobre alguns fatores de risco para o suicídio entre crianças e adolescentes. Gratidão define o "Happiness Day", que participei como palestrante na última sexta-feira!

Quem diria que após cinco décadas da triste morte do meu pai (por suicídio em 1970), eu estaria falando para adolescentes sobre Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio. Eu tinha 13 anos, estava entrando na adolescência, quando o meu pai, Elias Pereira Vale, se matou. A notícia chegou disfarçada para mim. Disseram que ele, militar e músico da Polícia Militar do Estado de São Paulo, havia sido atropelado por um caminhão. Foi a versão que carreguei até os 18 anos, quando me contaram a verdade.

Foram mais de 30 anos de psicoterapia para que eu pudesse entender o que o monge Thich Nhat Hanh, define muito bem: "o sofrimento e a felicidade são orgânicos por natureza, e isso significa que ambos são transitórios, estão sempre mudando. A flor quando murcha se transforma em adubo. O adubo pode ajudar mais uma vez na germinação da flor. Da mesma forma, a felicidade também pode se transformar em sofrimento e o sofrimento pode se transformar em felicidade novamente. Se você for capaz de reconhecer e aceitar sua dor, sem fugir dela, descobrirá que embora a dor esteja presente, a alegria também pode estar ali ao mesmo tempo. A semente do sofrimento em você pode ser intensa, mas não espere até que o sofrimento acabe para se permitir ser feliz. Quando uma flor do jardim está doente, você precisa cuidar dela. Mas não ignore todas as outras flores saudáveis. Mesmo com angústia no coração, você pode desfrutar das inúmeras maravilhas da vida: o belo pôr do sol, o sorriso de uma criança, as variadas flores e árvores. Sofrer não é tudo".

Especializei-me em Suicídio e Automutilação e passei trabalhar com a valorização da vida, que permitiu reelaborar a dor e a saudade e, ao mesmo tempo, reconhecer a importância do amor que tenho e sinto por meu pai. Este trabalho também possibilitou a democratização dos cuidados e atenção aos sentimentos, por intermédio do Instituto Influir, que fundei em 2021 para transformar as pessoas por meio da educação. Afinal, o suicídio na adolescência é um assunto que precisa ser debatido com urgência. É um fenômeno social presente desde o início da história associado a uma série de fatores psicológicos, culturais, morais, socioambientais, econômicos entre outros fatores. Trata-se de um grave problema de saúde pública. Podemos dizer que há uma endemia (os números só crescem), diferente de uma epidemia (onde os números crescem, o poder público age e os números diminuem) silenciosa e silenciada. Entretanto, os suicídios podem ser evitados e prevenidos, com base em evidências e intervenções de baixo custo.

Então, o que podemos fazer para mudar estes índices? Qual o papel dos pais, educadores e amigos para evitar essas tragédias?

O primeiro e grande passo é a conscientização sobre o assunto. O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos, perdendo apenas para violência. Ele é um fenômeno complexo. É o final de um processo que vai se instalando na vida da pessoa, composto por 3 etapas: os pensamentos recorrentes de tirar a vida, os planos e as tentativas de suicídio (que chamamos habitualmente de comportamento suicida).

As três principais características das pessoas que tentam o suicídio, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são:

Ambivalência: a pessoa oscila e vive um conflito entre o desejo de viver e o desejo de morrer. Anseio de sair da dor e do sofrimento e encontrar na morte uma única alternativa ou forma mais rápida e eficaz para fugir dessa situação de angústia.

Impulsividade: a tentativa de suicídio é o ato de executar o plano que a pessoa traçou para pôr fim a sua vida e é um ato impulsivo desencadeado por sentimentos negativos que podem ser temporários. É por isso que em prevenção de suicídio a gente trabalha com a frase: não tome uma decisão definitiva para um problema temporário.

Rigidez: as pessoas que tentam suicídio possuem pensamentos fixos e constantes sobre suicídio, e encaram esta como única alternativa para enfrentar e resolver o problema.

Entretanto, vale um alerta: a pessoa que se mata não quer acabar com sua vida, mas com sua dor que lhe é insuportável.

O suicídio é influenciado por diversos fatores. A depressão é um dos principais determinantes para o comportamento suicida e para ação efetiva (tentativas) entre adolescentes como em jovens.

Situações que envolvem violência física, homofobia, consumo abusivo de álcool e uso de drogas contribuem para aumentar a vulnerabilidade dos adolescentes e jovens para o suicídio. Sentimentos de não pertencimento, como a exclusão e não aceitação de si mesmo por parte do próprio adolescente, jovem, sua família e ou seus amigos são fatores que também aumentam o risco de suicídio.

Nos adolescentes dentre os principais determinantes para o suicídio também podem contribuir: indiferença, omissão dos pais sobre suas ações e emoções, violência familiar, cyberbullying e bullying. Contudo, o suicídio pode ser prevenido! E só pode ser prevenido se formos capazes de conhecer o fenômeno para acolher a dor dos outros e colaborar na prevenção. Qual o papel da família nos cuidados à saúde mental?

Em relação à saúde mental, a família permanece como protagonista na promoção de fatores de proteção e redução dos fatores de risco às condições psicológicas de seus membros, crianças ou adultos.

Por este motivo, promova na sua casa momentos de conversa, exclua o sentimento de individualismo, substituindo-os por autoconhecimento. Escolha um dia da semana qualquer e um espaço de tempo, não superior a uma hora para vocês conversarem com seus filhos. Durante esse período, desligue a televisão, assim como o rádio, tablets e smartphones. Faça desse tempo um momento de "bate-papo" espontâneo, onde pais, filhos e, eventualmente, outros parentes ou amigos que moram na casa, estejam periodicamente se reunindo para conversarem. Falem da vida, do trabalho, da escola, dos amigos, das coisas que amam, dos sonhos que acalentam.

Muitos pais, quando veem seus filhos num estado de desesperança, os incentivam a tentar mais, a pensar positivo, dizendo que assim irão superar os problemas. Essa atitude pode fazer mais mal do que bem e não é recomendada por especialistas. Para que o diálogo tenha efeito positivo, você precisa estar aberto à escuta.

Também não se deve evitar menosprezar a dor alheia. Esses tipos de atitudes podem significar para o seu filho que o pai/mãe não é capaz de entender o que ele está passando. Consequências comuns desse sentimento de incompreensão é a baixa autoestima, o isolamento e o corte de diálogo.

O importante é tentar mostrar saídas e manter o diálogo sempre aberto. Enxergando que pode haver saída para o seu problema, estando ou não em boa saúde mental, os jovens encontrarão mais motivos para viver e menos para terminar com a vida. Veja algumas dicas para enfrentar essa situação:

✓ Não tenha medo de falar sobre o assunto, especialmente se notar os sinais de alerta.

✓ Não recrimine pelo que ele (a) tem a dizer — se suas angústias forem tratadas como "bobagens" —, o adolescente se sentirá ainda pior.

✓ Permita que ele se sinta acolhido

✓ Procure ajuda de um psicólogo ou psiquiatra.

✓ Incentive hábitos que favoreçam o bem-estar para afastar a depressão e ansiedade do cotidiano.


Licio de Araújo Vale é Suicidólogo, Educador e Palestrante Conheça mais sobre seu trabalho através de
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